Acordar com o toque dos Looney Tunes as cinco e quarenta da manhã, a TV ligada, três garrafas de cerveja deitadas no chão e uma caixa de esfirra que eu tinha que competir com um carente Jack Russel Terrier chamado Milo, é eu sou fã do Maskára. Bater um copo de vitamina de abacate, jogar uma água gelada na cabeça pra poder despertar e tentar enganar minha consciência com uma caminhada na praia pra dizer que sou saudável. Na verdade era minha obrigação moral com o Milo que ficava o dia inteiro sozinho naquele apartamento, enquanto eu passava o dia inteiro na beira de um fogão de um restaurante qualquer perto do condomínio onde morava. A volta era sempre a mesma coisa, passada no supermercado pra comprar mais uma caixa de cerveja e esfirra congelada. O tratamento pra hipotireoidismo só fazia aumentar minhas noites "empolgantes" na frente da TV assistindo algum programa alienígena até cochilar e acordar no outro dia da mesma forma que o resto da semana. Não tinha cabeça pra nenhum relacionamento sério, estava farto de perder meu tempo com namoricos e nenhuma mulher de verdade se interessaria por um cara como eu. Pobre, barbudo, cabelo despenteado e um apartamento sujo com um cachorro carente. Eu era o típico fracassado americano que até conseguia se divertir com os amigos numa mesa de bar, jogando conversa fora. Mas a felicidade passava longe da minha realidade, por dentro eu tava derrotado, tava sendo esmagado por uma uma força negra que era oca e onipotente chamada rotina comodista.
Tava faltando alguma coisa pra eu me sentir bem comigo mesmo, talvez
uma viagem ? Meu salário não permitia tal imprevisto. Eu realmente não sabia o
que fazer e nem como lutar contra aquilo. Acho que cheguei ao ponto de abraçar
aquela força e deixa-la me dominar por inteiro. Andava sempre com um canivete
no bolso em mais uma tentativa frustrada de tentar enganar minha consciência e
dizer que tenho coragem pra brigar com alguém, era o tipo de ação que eu
poderia ter numa cidade violenta como a Salvador de hoje em dia, mas na verdade
eu detestava brigas. Eu queria mesmo era uma moto, uma jaqueta preta com uma
caveira nas costas, dinheiro pra gasolina e uma estrada que desse a volta no
mundo inteiro. Queria a cada dia amanhecer numa cidade diferente, na cama de
alguma garçonete que eu tinha conhecido na noite anterior, pronto pra mais um
dia longo de uma viagem sem fim. Provar todo tipo de culinária existente nesse
mundão imenso. Sinto que fomos feitos pra isso, pra ser livres, pra abrir nossas
asas e migrar como as aves. Mas como eu havia dito, minha velha amiga rotina
fazia voltar a realidade num latido vindo da sala, era sexta feira e eu tinha
pedido pizza. Fechei o notebook arquivando mais um sonho no meu diário
eletrônico, levantei da privada, peguei mais uma cerveja na geladeira, aumentei
o volume da TV e me preparei pra tentar mais uma vez me sentir vivo em algum
sonho perdido dentro da minha mente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário